Cuidados Paliativos - o cuidado da vida em cada detalhe, até o último momento

 

A Psicologia Hospitalar possui muitas possibilidades de atuação e, dentre elas, uma das que eu mais gosto é a de Cuidados Paliativos. 

Algumas pessoas pensam que Cuidados Paliativos são sobre morte... eu gosto de dizer que são sobre vida e não apenas isso, mas sobre a preciosidade imensurável da vida quando temos consciência de que ela acaba e que está próxima de acabar. 

Cuidados Paliativos são realizados por profissionais competentes, qualificados tecnicamente e sensíveis às necessidades e desejos da pessoa e sua família. Não dá para improvisar. É preciso dedicação, sensibilidade e coesão de equipe para promover vida até o último momento. 

Me lembro até hoje (quase 8 anos depois), dos primeiros contatos que tive com pessoas em fim de vida, e de como isso me atravessou. Como é da minha natureza não deixar os incômodos pra lá, comecei a questionar, ler e estudar incansavelmente, na tentativa de sanar esse incômodo. 

As pessoas em Cuidados Paliativos que tive a oportunidade de conhecer me ensinaram mais do que qualquer curso ou livro. Trabalhar com essas pessoas me possibilitou compreender o quanto a vida é efêmera, o quanto não temos controle sobre nada e, principalmente, que não podemos deixar o que mais importa pra depois! 

E quando digo o que mais importa, não falo de metas de trabalho, nem de posses materiais, nem de projetos grandiosos. 

Do que você mais sentiria falta, se tirassem de você? 

Família, amigos, amores. Liberdade, independência, autonomia. Sentir o vento, comer algo gostoso. Tomar banho no chuveiro, beber água. 

Quando você conhece pessoas cujos desejos são esses – para quem está saudável, algo tão simples, até banal -, você corre o risco de precisar rever seus valores, objetivos e sonhos. 

Uma história que me marcou profundamente foi a de uma pessoa jovem (faixa etária entre 25 e 35 anos) que viveu os últimos meses de sua vida na Unidade de terapia intensiva, em ventilação mecânica, traqueostomizada... Longe da família, do filho pequeno, sem poder ver o céu, sem poder se alimentar pela boca. Uma pessoa extraordinária. Com apoio e cooperação de toda a equipe, foram feitas todas as intervenções possíveis. Gelo para alívio da sede. Atendimento psicológico diário para alívio emocional. Liberação de visita estendida. Realização de videochamadas. Passeio no jardim. Remanejamento de leito. Tudo o que estava ao nosso alcance. Isso é Cuidado Paliativo – ouvir e atender as necessidades da pessoa, aliviar os sintomas, oferecer dignidade. 

Como psi, busco oferecer minha presença, minha escuta sensível e todas as intervenções que estiverem ao meu alcance pra tornar esse momento menos doloroso, menos angustiante e, para quem fica, menos difícil de lembrar. 
 
Por fim, cito Cora Coralina, que diz: “Nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas”.  


Obs.: Na imagem, uma criação utilizando Inteligência artificial, feita pela @Viviane Damo que esteve comigo no acompanhamento deste caso, ilustrando o filho da pessoa do caso acima citado, em um dia de visita. 

Psicóloga Daniela Filipini
Especialista em Psicologia Hospitalar
CRP 08/40303